segunda-feira, 1 de junho de 2015

Dor na Relação Sexual (Dispareunia): Os homens precisam saber mais

A dor no ato sexual é denominada “dispareunia” e atinge cerca de dois terços das mulheres durante sua vida. Ela é causa de grandes transtornos na esfera sexual e psicológica, interferindo negativamente na autoestima, nos relacionamentos amorosos e na qualidade de vida dessas mulheres.  

A dor pode ocorrer em qualquer idade: no início da vida sexual, no climatério ou na menopausa. Pode ser aguda, espasmódica ou acompanhada de ardência. Pode se apresentar na vulva, na vagina, na região pélvica ou no abdômen.

Apesar da dispaurenia interferir negativamente no desejo, na excitação, no prazer sexual e no orgasmo, pesquisas demonstram que é alto o número de mulheres adultas que têm relações sexuais dolorosas com frequência, muitas vezes motivadas pelo medo de perder o parceiro. Muitas mulheres relatam que o parceiro não entende a queixa, o que leva a um questionamento das relações e conflitos.

Por outro lado, em muitos casos a mulher acaba evitando o ato sexual ou abstendo-se de todas as formas de contato físico, com implicações e até reclusão das relações.


O parceiro da mulher com dispareunia deve encarar o problema como do casal, sendo compreensivo e sensível; auxiliando-a na busca por tratamentos que a acolham e a ajudem a superar o problema.


As Causas

A dispareunia pode ser causada por fatores físicos ou psicológicos e normalmente são vários os fatores causadores, não havendo um fator isolado. Destaco a importância de um auxílio psicológico profissional que pode ser para a mulher, mas é interessante pensar na possibilidade do casal realizar junto esse tratamento.
Então vamos a algumas causas da dispareunia:

Causas Físicas
  •  Lubrificação vaginal inadequada;
  •  Inflamação e infecção genitais, tais como candidíase, tricomoníase, etc;
  •  Deficiência estrogênica, que geralmente ocorre depois da menopausa e ocasiona secura vaginal;
  •  Endometriose;
  •  Episiotomia (incisão na região do períneo para “facilitar”o parto) ;
  •  Pontos para reparar a ruptura dos tecidos depois do parto;
  •  Radioterapia, pois pode produzir alterações nos tecidos que fazem com que as relações sexuais sejam dolorosas.
  • Vaginismo que é contração involuntária dos músculos do períneo, quando é tentada a penetração vaginal com pênis, dedo, tampão ou espéculo;
  •  Vulvodínia que é a dor e ardência sentida na região vulvar de forma espontânea ou provocada pelo toque, penetração do pênis e até pelo contato de algumas substâncias ou o uso de roupas apertadas nessa região;
  •  Infecção urinária (cistite) e cistite intersticial.


Causas Psicológicas
  •  Crenças religiosas muito rígidas;
  •  Educação repressora;
  • Traumas infantis relacionados à sexualidade;
  •  Medos e tabus quanto ao contexto sexual;
  •  Medo de machucar o bebê, durante a gestação;
  • Sentimento de culpa na vivência da sexualidade;
  • Dificuldade em compreender e aceitar a sexualidade de uma maneira saudável. 

Os Tratamentos
O tratamento para dispareunia deve ser interdisciplinar e dependendo do caso pode contar com vários profissionais como o ginecologista, o psicólogo/sexólogo, o fisioterapeuta pélvico, o endocrinologista e o nutricionista.



Como a Fisioterapia pélvica pode ajudar?
Para uma melhor compreensão vou separar quais as causas e qual o tratamento proposto pela fisioterapia.
A fisioterapia pélvica trata de algumas causas da dispareunia como o vaginismo e a vulvodínia. Isto é realizado através de exercícios de relaxamento respiratório e pélvico e dos alongamentos dos músculos pelvi-perineais. Também são utilizados o biofeedback (um aparelho que ajuda a identificar a tensão e a controlá-la), a eletroanalgesia (aparelho usado para combater a dor) e os dilatadores (dispositivos para auxiliar no alongamento dos músculos perineais).

    Algumas outras causas da dispareunia também tem abordagem da fisioterapia pélvica como no caso da episiotomia (corte dado no períneo para saída do bebê) e também nos pontos da laceração ocorrida nos partos vaginais sem cortes.

Em ambos os casos relaxamos o tecido e flexibilizamos a cicatriz para evitar dor no retorno da atividade sexual. Também utilizamos a eletroanalgesia no combate da dor.

Nas mulheres que passaram por radioterapia na região pélvica, o tratamento será muito importante para melhorar a flexibilidade do tecido vaginal e isto é alcançado através da massagem perineal, do uso de dilatadores e de exercícios pélvicos.

 Outro caso que atuamos é quando há diminuição das taxas do estrogênio no climatério e principalmente na menopausa. Este fato pode provocar o aparecimento da incontinência urinária, devido ao relaxamento da uretra e também dores na relação sexual causadas pelo ressecamento vaginal.

 Por isso é importante o trabalho da fisioterapia para resgatar o vigor da musculatura perineal, evitando a incontinência, além do alongamento e relaxamento perineal evitando a dispareunia. Este tratamento deve ser realizado junto ao ginecologista que verá a necessidade de repor o estrogênio vaginal.

E por último destaco a importância da abordagem fisioterapêutica numa enfermidade de difícil diagnóstico e tratamento, a cistite intersticial, hoje denominada Síndrome da Bexiga Dolorosa (SBD).
A fisioterapia atua relaxando e alongando a musculatura pélvica, através da eletroanalgesia e da terapia manual, além do uso do biofeedback, citado anteriormente.

Então homens, agora que vocês entenderam mais, participem ativamente do tratamento de suas parceiras. Juntos vocês serão mais fortes!

PS: Não posso deixar de agradecer a todos os homens que vieram junto com suas companheiras ao meu consultório nesses quatorze anos de fisioterapia pélvica.    A participação de vocês é muito importante para a melhora e o processo de cura. Muito obrigada pela confiança de todos e todas as minhas queridas pacientes.